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O apóstolo e eu





 Lucas 5 é um capítulo que tem um espaço especial na minha história, ele me fala sobre fé e a provisão de Deus.

mas algo novo surgiu no meu coração sobre a história de Pedro, Jesus e da pescaria. enquanto assistia The Chosen eu via a representação do esforço e da frustração de Pedro ao pescar várias e várias vezes sem pegar absolutamente nada.

eu via a agonia, a frustração e o medo em uma cena que demonstrava sentimentos que já senti várias vezes em circunstâncias diferentes.

mas algo mudou em mim quando eu vi a cena em que em Seu primeiro encontro com Pedro, Jesus o manda ir pra águas mais profundas e lançar a rede novamente. 

eu via um Pedro incrédulo, frustrado e cansado de tentar. eu via um Pedro sem esperança, eu via a mim mesma.

mas quando as redes vem cheias, o rosto de Pedro se ilumina maravilhado com o milagre performando por aquele homem que ele não fazia ideia de quem era. Pedro não conhecia Jesus, mas sabia que era poderoso. Pedro não sabia que ele era o Messias ainda, mas sabia que podia confiar em Suas palavras. Pedro não sabia que aquele homem morreria numa cruz por ele, mas sabia que Ele era digno de ser seguido, como assim o fez.

refletir nisso tudo me mostrou algo novo: que talvez se Pedro tivesse pego alguns peixes, mesmo que não o suficiente pra aquele dia, quando suas redes viessem cheias por causa da realização de um milagre, talvez ele não o veria como um milagre tão grande.

talvez se ele tivesse pego alguns peixes, ele tivesse até mesmo dito a Jesus que não lançaria as redes novamente, mas que se contentaria com o que tinha e tentaria de novo no dia seguinte.

não pescar nada fez Pedro ver a glória no milagre por um ângulo que só quem já provou da frustração sabe reconhecer.

às vezes as coisas precisam dar muito errado pra vermos com a gratidão devida quando elas finalmente derem certo. 

na vida eu fui e sou ainda como Pedro. não o das epístolas, o apóstolo amoroso e gracioso, mas o pescador impaciente e precipitado descrito nos evangelhos.

por muitas vezes me perguntei por que algumas pessoas não precisaram provar de tantas frustrações quanto eu. alguns passaram em concursos tendo estudado menos do que eu, que não passei em nenhum dos que queria, por exemplo.

alguns foram claramente abençoados rapidamente, muito mais cedo do que eu e viveram menos frustrações. muitas vezes perguntei a Deus o porquê, não por não estar feliz por eles, mas por querer o mesmo pra mim.

assistindo um série de forma despretensiosa eu entendi o porquê: por que eu sou como Pedro.

por que eu precisava viver coisas e amadurecer em áreas que outros não precisaram. eu precisava voltar com as redes vazias por várias vezes, pra valorizar devidamente quando elas finalmente vierem cheias. 

entender isso foi consolador. entender isso foi libertador.

eu costumava brincar que Deus tem seus preferidos quando via irmãos com a vida "arrumadinha" sem muitos altos e baixos, mas geralmente apenas "altos". eu questionava a sabedoria e bondade de Deus sem perceber.

a raíz da inveja passou por lá também algumas vezes disfarçada no "isso só acontece com os outros, nunca comigo". eu questionava porque não entendia, hoje eu agradeço porque entendo.

entendo que meu coração é mais duro do que o de outros e que por isso talvez eu tenha que aprender mais do que eles.

entendo que isso não quer dizer que sou menos amada, entendo que por isso preciso ser mais corrigida e Deus corrige os que Ele ama.

Pedro não foi rejeitado por Jesus por não ser um discípulo como João, ele foi repreendido, corrigido e amado pra só então apascentar as ovelhas do Senhor. 

Jesus ainda nos ama quando somos como o Pedro impulsivo e esquentadinho, e Ele nos molda até sermos o Pedro que confessa que O ama e apascenta Suas ovelhas.

talvez isso comece com a gente reconhecendo que as redes vazias dão espaço ao milagre que as encherá no tempo oportuno, começa aprendendo a ver beleza no que dá errado, até a hora de lançar as redes novamente.

a frustração nos faz ver a glória de Deus com mais gratidão quando a provisão chega, e nos mostra como nosso coração precisa ser ajustado pra contemplar corretamente o que Deus tem guardado pra nós a ser dispensado em seu devido tempo.


Como é grande a tua bondade,

que reservaste para aqueles que te temem,

e que, à vista dos homens,

concedes àqueles que se refugiam em ti!

Só 31:19 


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